
A Vida em Espiral: O Caminho da Cura Interior
Por Camile Viêira
Terapeuta integrativa e idealizadora do Projeto Semeando Transformações
A espiral é um símbolo ancestral, presente em diferentes culturas e tradições espirituais ao redor do mundo. Ela representa o movimento da vida, os ciclos, a expansão da consciência e a jornada de retorno à essência.
Na cultura celta, a espiral simboliza os ciclos da vida, da morte e do renascimento, além da conexão entre corpo, mente e espírito. É a representação do fluxo contínuo da existência, do crescimento e da evolução da alma.
Para os povos indígenas das Américas, a espiral aparece como um símbolo da jornada do espírito, do equilíbrio com a Mãe Terra e da compreensão dos ciclos naturais — nascimento, crescimento, transformação e renascimento. Ela reflete o caminho de quem vive em conexão com os elementos e com a teia da vida.
No Egito Antigo, a espiral estava associada ao movimento da energia vital, à eternidade, ao ciclo infinito da vida e à regeneração. Representava o fluxo do cosmos, da criação e da perpetuação da existência.
Esse símbolo universal atravessa tempos e culturas, nos lembrando que a vida é um movimento contínuo — espiralado, cíclico, orgânico — assim como os próprios ritmos da natureza.
Por muito tempo, busquei a cura fora de mim. Acreditava que ela poderia estar no mundo externo — nas relações, na família, no trabalho, nos lugares que eu frequentava. Até que a vida, com sua sabedoria, me conduziu ao entendimento mais simples e, ao mesmo tempo, mais profundo: o verdadeiro caminho de cura não está fora, ele acontece dentro.
O Mergulho Interno: Nem Sempre Confortável, Sempre Transformador
Mergulhar em si é, muitas vezes, desconfortável. A cada camada que retiramos, podemos nos deparar com vazios, incertezas, angústias, medos e até com o desejo de respostas rápidas que nem sempre vêm.
A mente busca entender, classificar, resolver. Mas há processos da alma que não se explicam — se sentem, se vivem, se integram. E tentar racionalizar tudo, muitas vezes, só gera mais ansiedade, frustração e desconexão.
Aprendi que algumas respostas não vêm pela via da lógica, mas sim pela experiência. Pelo sentir. Pela pausa. Pela entrega. Pela aceitação amorosa do que é, do que foi e do que se apresenta agora.
A Cura é um Movimento em Espiral
A vida não é uma linha reta. O caminho é uma espiral.
Tudo na vida são ciclos. A espiral nos ensina que a vida não é sobre chegar a um ponto final, mas sobre caminhar em constante transformação. Cada giro nos devolve a lugares conhecidos, mas com um novo olhar, mais consciente, mais amadurecido, mais inteiro.
E é justamente por isso que certos temas, padrões e dores parecem retornar ao longo da vida. Não se trata de fracasso ou retrocesso — mas de uma nova oportunidade de enxergar com mais clareza aquilo que antes ainda era inconsciente.
As repetições são convites: elas voltam não para nos punir, mas para nos transformar. O que antes era vivido com dor, hoje pode ser olhado com compreensão. O que antes era fuga, hoje pode ser escolha.
Na espiral da vida, voltamos ao mesmo ponto... mas com outra consciência.
Crescemos, nos expandimos, nos recolhemos e recomeçamos — vezes sem fim.
A espiral nos lembra que não retrocedemos. Estamos sempre em evolução. Mesmo quando parece que estamos voltando para o mesmo lugar, na verdade, estamos olhando esse lugar desde outro ponto da espiral: mais acima, mais conscientes, mais despertos. Fluir com o movimento é confiar no processo.
A Natureza como Mestra dos Ciclos
A natureza nos oferece uma sabedoria ancestral e profundamente viva sobre os ciclos. Tudo na Terra segue um movimento cíclico: o dia que nasce, cresce, declina e adormece na noite. As estações que se alternam — primavera, verão, outono e inverno —, cada uma com sua potência, seu ritmo, seus convites.
Assim como as árvores se despem no outono para conservar energia no inverno, também somos chamados a soltar o que não faz mais sentido, a recolher nossa energia, a descansar, a nos interiorizar. Para, então, na primavera interna, renascermos — mais leves, mais alinhados com nossa essência, mais disponíveis para florescer.
A lua nos mostra, ciclo após ciclo, que não precisamos estar sempre plenos, iluminados e produtivos. Ela nos ensina sobre o vazio, sobre a importância dos recolhimentos, das pausas, dos recomeços. Cada fase lunar carrega um convite: crescer, expandir, colher, refletir, limpar e recomeçar.
Essa mesma visão é lindamente traduzida por Miranda Gray, no livro "Lua Vermelha" (5ª reimpressão, 2019), quando ela nos lembra que:
"Nós somos cíclicas. Dentro de nós habita uma natureza
que pulsa, que cresce, que recolhe e que renasce. E é nessa dança interna que
encontramos não só os nossos desafios, mas também a nossa potência e
sabedoria."
Ela nos convida a resgatar esse saber esquecido, a entender que nossos
processos internos — sejam emocionais, espirituais ou físicos — seguem os
mesmos movimentos da natureza: nascer, crescer, morrer e renascer.
Perceber-se parte desse grande movimento natural traz uma profunda compreensão de que não estamos errados quando sentimos vontade de parar, de silenciar, de refletir. É apenas a vida nos chamando a honrar nossos próprios ciclos, assim como tudo que é vivo faz.
O Processo de Cura: Um Chamado à Essência
O processo de cura é complexo, profundo e sagrado. Ele abarca não só esta existência, mas camadas de histórias, memórias, padrões e aprendizados — alguns conscientes, outros nem tanto.
É um convite permanente para nos despirmos das ilusões, das máscaras e dos condicionamentos, e nos reconectarmos com nossa essência mais pura, com nossa verdade, com o que somos além da forma.
E, nesse caminho, entendemos que não se trata de chegar a um destino perfeito, mas de viver cada passo com presença, amor e entrega.
Que possamos honrar nossos processos, nossas espirais, nossos ciclos. E que, a cada volta, estejamos mais inteiros, mais livres e mais conectados com quem verdadeiramente somos.
— Camile Viêira
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Referências
- GRAY, Miranda. Lua Vermelha: Os Dons do Ciclo Menstrual. 5ª reimpressão. São Paulo: Editora Pensamento, 2019.
- VIÊIRA, Camile. A Natureza da Cura. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Psicologia Transpessoal) — Universidade Internacional da Paz (Unipaz Paraná), Curitiba, 2021.